quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Ensaiamos tanto que aprendemos a ser cegos

Não sei se posso me classificar com um ser nacionalista, mas nos últimos tempos tenho me percebido defensor de algumas coisas dessa nação, uma delas.. os filmes. Já faz um tempo que os filmes que mais me atraem, prendem minha atenção e causam algum turbilhão de idéias em minha cabeça são os filmes nacionais, ou aqueles que têm um dedinho brasileiro como Ensaio Sobre a Cegueira.
Durante o decorrer do filme, minha cabeça não parava de funcionar numa tempestade de indiferença entre meu consciente e inconsciente, numa busca de contextualizar as informações vistas no momento com as deformações que meus olhos já estão acostumados a ver.
Passeei pelas entrelinhas encontrando semelhança entre a tela do cinema e a da rua, entre os olhares dos personagens e do meu próprio olhar em muitos momentos. Ensaio Sobre a Cegueira é o tipo de filme que não nos prende por certezas, fixamos nosso olhar naquilo em que repudiamos, mas que praticamos; no que julgamos, porém adoramos; é uma tortura para aqueles que tentam escapar do pertencimento à sociedade proposta pelo filme, e um olhar diferenciado para aqueles que mesmo com vergonha de si mesmo sabe das verdades contidas nos pontos mais sinceras do filme e da sociedade, as palavras mudas, os “olhares” cegos e a aceitação das vontades alheias.
Não sei se foi falta de percepção minha, mas não me lembro do nome de nenhum personagem do filme, se eu estiver certo, essa ausência nominal corre paralelamente com nossas práticas atuais, rotulamos as pessoas por funções e papéis, e não por seus nomes e valores; estive atento à apresentação dos “novos cegos” por números e funções de trabalho.
Tanto no filme, quanto no mundinho em que vivemos, as pessoas têm três escolhas: gostar, odiar ou ser indiferente, e com esse filme não é diferente; não sei dizer qual das escolhas é a mais saudável, só sei dizer que não existe uma escolha correta, já que essa escolha não é nossa, é a escolha da nossa visão de mundo, e da nossa visão de nós mesmos.
Durante o filme achei a Julianne Moore [mulher apaixonada, traída pelo marido, enfim.. a “corna” do filme (foi o jeito que encontrei pra descrevê-la, já que não possui um nome)] a única realmente cega, até um certo momento em que recuperou sua visão, mas pra aqueles que não assistiram o filme, não fiquem impregnados com minhas opiniões, assistam e vão poder perceber que escrevi um bocado de besteiras aqui...
A real cegueira não é aquela que não podemos enxergar os fatos, e sim aquela em que decidimos virar as costas.

4 comentários:

Unknown disse...

Fez-me lembrar do que conversamos outro dia...acredito que existe o lado bom (embaçado pela cegueira), mas ainda assim, bom!
Belos comentários do filme!Vc escreve maravilhosamente bem^^

Olavo Coelho disse...

Guri, te add ao meu blog oks? Abraçao e se cuida

Anônimo disse...

Gosto de olhar nos seus olhos e enxergar o que não posso ver e só sentir, nisso também sou cega...
Amo-te pelo modo como ver a vida.

Dimas Gabriel disse...

valeu novamente pela leitura e pelos elogios... será que mereço todos?
cuidado pra nao me colocarem na posição de objeto...heheh
beijos!