segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Meu mundo, eu no mundo e o mundo em mim

Um belo dia resolvi sentir ao invés de falar, andar em vez de pensar, tocar antes de julgar e gritar depois de calar.
Ao nascer nos é depositada uma carga de energia de esperança de todo um mundo que mesmo inconsciente grita por socorro, por mudança. Crescemos e com esse “crescimento” aprendemos que a esperança às vezes morre pelo medo da diferença, da distância existente entre nossa idéia e a realidade; para nos proteger de uma grave patologia, preferimos compactuar com certas atitudes, num processo “esquizofrenizante”, permitindo-nos entrar em contato com a “realidade” criada por nossos medos e comodidades.
Criamos e vivemos nesse mundo de imagens que aprendemos a adorar por medo de rejeitar e nos tornar rejeitados, e permanecemos nele por desacreditar em nós mesmos. Também pertenço a esse mundo de corpos, e não nego que o consumo para satisfazer os diversos desejos criados em mim, mas são as idéias soltas que me seduzem constantemente e nelas é que se concentram minha atenção e minhas dúvidas.
O meu mundo é o mundo das pessoas, onde o aceitar vem antes do outros verbos; mas não tenho como fugir do mundo que criamos num desejo insano e protetor de nos defender dos nossos próprios ataques, compartilho algumas idéias para não entrar em surto e mesclo o meu mundo com o nosso mundo em mim, apenas numa tentativa de SER, para a partir daí me portar diante da realidade.
Não existe um modelo de se portar e agir perante o mundo, e também não sei se consegui ser claro nas minhas palavras, foi apenas uma tentativa de alertar a mim mesmo para não me deixar cair nos modelos prontos que me trazem, de estar atento e não atuar da forma que querem que eu atue e de não esquecer de SER para agir da minha forma perante as situações cada vez mais absurdas.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Ensaiamos tanto que aprendemos a ser cegos

Não sei se posso me classificar com um ser nacionalista, mas nos últimos tempos tenho me percebido defensor de algumas coisas dessa nação, uma delas.. os filmes. Já faz um tempo que os filmes que mais me atraem, prendem minha atenção e causam algum turbilhão de idéias em minha cabeça são os filmes nacionais, ou aqueles que têm um dedinho brasileiro como Ensaio Sobre a Cegueira.
Durante o decorrer do filme, minha cabeça não parava de funcionar numa tempestade de indiferença entre meu consciente e inconsciente, numa busca de contextualizar as informações vistas no momento com as deformações que meus olhos já estão acostumados a ver.
Passeei pelas entrelinhas encontrando semelhança entre a tela do cinema e a da rua, entre os olhares dos personagens e do meu próprio olhar em muitos momentos. Ensaio Sobre a Cegueira é o tipo de filme que não nos prende por certezas, fixamos nosso olhar naquilo em que repudiamos, mas que praticamos; no que julgamos, porém adoramos; é uma tortura para aqueles que tentam escapar do pertencimento à sociedade proposta pelo filme, e um olhar diferenciado para aqueles que mesmo com vergonha de si mesmo sabe das verdades contidas nos pontos mais sinceras do filme e da sociedade, as palavras mudas, os “olhares” cegos e a aceitação das vontades alheias.
Não sei se foi falta de percepção minha, mas não me lembro do nome de nenhum personagem do filme, se eu estiver certo, essa ausência nominal corre paralelamente com nossas práticas atuais, rotulamos as pessoas por funções e papéis, e não por seus nomes e valores; estive atento à apresentação dos “novos cegos” por números e funções de trabalho.
Tanto no filme, quanto no mundinho em que vivemos, as pessoas têm três escolhas: gostar, odiar ou ser indiferente, e com esse filme não é diferente; não sei dizer qual das escolhas é a mais saudável, só sei dizer que não existe uma escolha correta, já que essa escolha não é nossa, é a escolha da nossa visão de mundo, e da nossa visão de nós mesmos.
Durante o filme achei a Julianne Moore [mulher apaixonada, traída pelo marido, enfim.. a “corna” do filme (foi o jeito que encontrei pra descrevê-la, já que não possui um nome)] a única realmente cega, até um certo momento em que recuperou sua visão, mas pra aqueles que não assistiram o filme, não fiquem impregnados com minhas opiniões, assistam e vão poder perceber que escrevi um bocado de besteiras aqui...
A real cegueira não é aquela que não podemos enxergar os fatos, e sim aquela em que decidimos virar as costas.